Igreja: Um Espaço de Acolhimento ou de Hostilidade e Constrangimento?

Acolher x Hostilizar?


Recentemente, durante uma visita a uma barbearia, deparei-me com uma discussão interessante entre os clientes sobre a percepção de hostilidade e constrangimento em muitas igrejas. Mesmo entre os que se identificam como cristãos, havia um consenso de que o comportamento de certas congregações podem afastar pessoas em busca de um lugar espiritual para congregar, criando uma barreira que muitas vezes se manifesta de forma inibidora, para a conversão de novos membros. Este fenômeno levanta a questão: será que de fato as igrejas cultivam um comportamento hostil e constrangedor?

Sabemos muito bem que o Brasil é uma nação profundamente religiosa, a ascensão de várias denominações religiosas, muitas vezes vem acompanhada de desinformação e práticas que divergem do verdadeiro evangelho de Cristo. Conforme estabelecido nos ensinamentos de amor ao próximo, a simplicidade dessas diretrizes se perde frequentemente em meio a complicações desnecessárias e atitudes infelizes de alguns líderes religiosos, que distorcem a essência da mensagem cristã. Neste post faleremos um pouco sobre essa percepção.

Foto: Reprodução Canva



Quais as razões que levam a igreja parecer hostil e constrangedora?


1. Expectativa gerada por novos membros.


A expectativa que se deposita em relação à igreja, especialmente entre aqueles que não pertencem a uma religião definida, pode ser tornar bem decepcionante. Ao buscar um espaço acolhedor, onde a convivência seja pautada pela ausência de preconceitos e discriminação, essas pessoas frequentemente criam uma imagem idealizada da igreja, onde nenhum desses comportamentos é aceito. No entanto, é fundamental reconhecer que a igreja, como qualquer agrupamento humano, está sujeita a comportamentos inerentes à condição humana, (fofocas, intrigas, intolerância e diversos outros comportamentos), que podem incluir desentendimentos e discordâncias, gerando em sua maioria hostilidade ou constrangimento. Assim, a crença de que se encontrará um refúgio completamente isento das imperfeições que permeiam a sociedade pode levar à decepção. Portanto, é importante ajustar as expectativas, entendendo que, embora a busca por um ambiente espiritual possa ser genuína, a realidade é que a diversidade de experiências e comportamentos humanos também se faz presente nas igrejas.

2. Condução do ambiente igreja


A maneira como muitos líderes religiosos conduzem o ambiente da igreja gera preocupações pertinentes acerca do acolhimento e do respeito aos membros da igreja. Há casos em que pastores, durante suas pregações, usam revelações sobre a vida pessoal de membros da congregação de maneira constrangedora, expondo fraquezas, vícios ou transgressões de forma pública, e as pessoas não vão à igreja para terem mais problemas e sim para tentar solucionar. Esta prática, que pode ser motivada pela intenção de demonstrar dons espirituais, ou simplesmente para inflar o ego de alguns líderes, e acaba por criar um ambiente hostil e constrangedor, onde os frequentadores se sentem hostilizados ou envergonhados ao invés de acolhidos. Uma prática muito comum em diversas denominações espalhadas pelo Brasil, onde qualquer pessoa hoje pode acompanhar através das redes sociais como Instagram, Youtube e Tik tok.

Algumas aberrações cometidas pela igreja.


O ato do apelo


É possível que alguns leitores deste texto nunca tenham frequentado uma igreja ou que nunca tenham nutrido a intenção de fazê-lo. Contudo, é inegável que muitos já passaram por experiências em que, ao final de um culto, é feito um apelo para que os presentes aceitem Jesus e se disponham a seguir os ensinamentos divinos. Reconheço que algumas congregações têm adotado posturas mais cautelosas atualmente, especialmente em virtude do amplo acesso à informação, que promove um maior questionamento por parte dos fiéis. Entretanto, ainda existe nas igrejas um certo estigma associado a esses momentos de apelo, muitas vezes marcados por uma retórica que pode hostilizar aqueles que se mostram mais sensíveis. Lamentavelmente, alguns pastores, ao transmitirem suas mensagens, recorrem a abordagens que ferem a dignidade dos indivíduos, utilizando uma linguagem ameaçadora que, ao contrário do exemplo de compaixão e acolhimento pregado por Jesus, apenas resulta em hostilização e constrangimento. Essa falta de sabedoria na condução do convite ao Evangelho contribui para uma má interpretação do que realmente simboliza o evangelho de Cristo.

Ato de cura


Outro fenômeno preocupante nas igrejas são aos atos de cura ou libertação espiritual. Muitas vezes, indivíduos que já são membros dessas instituições se veem encurralados em dinâmicas de manipulação psicológica e emocional, especialmente em situações de expulsão de demônios, onde aqueles que não concordam com a prática possa ser hostilizados por pastores ou líderes da igreja, onde muitos ao não concordarem com a dinâmica da falsa cura ou falsa libertação são hostilizados por sua resistência e são caracterizados por falta de fé e muitas vezes categorizados até como endemoniados simplesmente por não aceitarem manipular as pessoas. Certas práticas podem criar um ambiente de exclusão, em vez de acolhimento. Este ciclo de alienação não só prejudica os que buscam um espaço de crescimento espiritual, mas também dilui a essência da solidariedade e do amor cristão que as igrejas deveriam promover.

Pablo Marçal e a Cadeirante


Um caso que se destaca e que, sinceramente, desperta um misto de constrangimento e revolta é o do coach Pablo Marçal e a cadeirante a quem ele se dirigiu durante um culto. Em um cenário que tem se tornado recorrente nas igrejas evangélicas, onde coachs cada vez mais tem pregado nas igrejas. Marçal propôs que a mulher se levantasse e andasse, tentando promover uma cura que, evidentemente, era impossível de ser realizada. Impossível por diversos fatores que teríamos que levar em consideração, não só pela capacidade da cadeirante em crer, mas também ao fato de existir um dom espiritual para que o coach realizasse tal cura. 

Foto: Reprodução-Pablo Marçal-Cadeirante


Essa atitude não apenas revela uma falta de sensibilidade e compreensão da escritura divina, mas também reflete um egocentrismo exacerbado, onde o coach transferiu a responsabilidade de sua incapacidade de realizar o milagre à “falta de fé” da mulher, ao invés de reconhecer sua própria limitação espiritual. Este episódio, embora tenha ganho notoriedade devido à figura de Marçal, é emblemático e observado em diversas denominações religiosas, onde líderes, ao serem questionados sobre suas capacidades, optam pela hostilidade em vez da humildade, o que acaba por afastar muitos dos fiéis e desvirtuar a verdadeira essência do Evangelho.

Como evitar constrangimento na igreja.


Para evitar constrangimentos ou hostilização na igreja, é fundamental seguir alguns passos.

  • Em primeiro lugar, desenvolver uma compreensão sólida da palavra de Deus e dos ensinamentos do evangelho de Cristo. Quando o indivíduo se torna bem esclarecido sobre esses princípios, a probabilidade de se sentir desconfortável ou ser alvo de críticas diminui significativamente.
  • Em segundo lugar, é crucial ter consciência de que todos os membros da congregação enfrentam suas próprias dificuldades e possuem personalidades complexas. Essa compreensão pode servir como um fator mitigador, prevenindo surpresas desagradáveis em situações de hostilização ou constrangimento.
  • Por fim, evitem igrejas cujo foco seja unicamente na cura ou na libertação de problemas espirituais e materiais, pois, essa abordagem pode desviar a atenção da mensagem central do evangelho, que preconiza o amor ao próximo e a importância do apoio mútuo. Assim, ao priorizar a essência do evangelho, é possível cultivar um ambiente mais acolhedor e harmonioso, propício à superação das adversidades de maneira coletiva.

Existe razão para ir à Igreja?


Claramente que sim. O papel da igreja na sociedade revela uma pluralidade muito grande, marcada por práticas edificantes e, por vezes, comportamentos distorcidos que ocorrem em algumas denominações. É inegável que existem igrejas que se dedicam plenamente a promover a salvação, bem-estar e a regeneração de indivíduos, especialmente aqueles que enfrentam sérios desafios como dependência de substâncias ou traumas psicológicos, agravado, por exemplo, em tempos de pandemia. Contemplei diversos jovens durante o período pandêmico passando por momentos de dificuldades emocionais, encontrarem refúgio e conforto nas igrejas.

Relatos de transformação pessoal e cura, embora variem em sua natureza e evidências, ressaltam a importância da fé individual, tal como explicitado nas Escrituras. A ênfase, então, deve recair sobre a relação pessoal com a Palavra e com Deus, e não unicamente sobre a expectativa de intervenções miraculosas vindas de terceiros, como líderes religiosos. Embora a experiência entre os membros possam apresentar desafios, ela também oferece a oportunidade de apoio mútuo, amizade genuína e um espaço para o acolhimento. Portanto, aqueles que se encontram em momentos de crise não devem hesitar em buscar o amparo que uma igreja cristã pode proporcionar, lembrando sempre que descobrir um ambiente acolhedor é parte fundamental dessa jornada.

Você é o bem maior da igreja


A visão de Jesus Cristo ao idealizar a Igreja foi a de um espaço fundamentalmente pautado no amor, que preconiza a necessidade de amar a si mesmo, ao próximo e a Deus acima de todas as coisas. É compreensível que, em meio a experiências negativas e à percepção de que algumas instituições religiosas podem se tornar hostis, muitos possam se sentir, desencorajados a buscar uma igreja para congregar. No entanto, é possível reconhecer que existem congregações que permanecem fiéis à essência do que Cristo ensinou e que promovem o amor genuíno e a aceitação. Mesmo diante de eventuais decepções ou constrangimentos, a compreensão da Palavra de Deus e a vivência do amor podem transformar essas experiências em oportunidades de crescimento, nos permitindo estender a mão àqueles que nos ferem. Portanto, se você se encontra em um momento de dificuldade e cogita a possibilidade de frequentar uma igreja evangélica, não se deixe intimidar. O ambiente e a acolhida que muitas igrejas oferecem podem ser restauradores. Ao buscar um local que valorize os princípios do amor e da bondade, tanto para consigo mesmo quanto para com o próximo, é possível encontrar um espaço de verdadeira libertação e renovação espiritual, à luz dos ensinamentos de Cristo.




"Você ja se sentiu hostilizado ou constrangido em alguma igreja?
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