Som Alto: Pobreza ou Falta de Educação?

Som Alto: Pobreza ou Falta de Educação?


O problema do som alto em bairros periféricos é uma realidade que afeta muitas cidades brasileiras. Crianças, idosos e estudantes sofrem frequentemente com barulhos que vão madrugada adentro, enquanto festas e eventos com música alta se tornam um ponto de discussão entre lazer e respeito. Você acha que é uma questão de pobreza, falta de educação ou ambos?

Paredão orla de itapuã - Salvador
Foto: Reprodução X — Paredão na orla de Itapuã em Salvador

A Pobreza e o Som Alto


Em muitos bairros de baixa renda, música alta se tornou uma fonte significativa de estresse para os moradores e aqueles que gostam dessa prática. Parece não haver um entendimento comum; os indivíduos tocam música em alto volume sempre que querem, desconsiderando o impacto nos outros. Por exemplo, no meu bairro, sendo muito bonito, mas é extremamente barulhento, há uma festa conhecida como “paredão”. As pessoas se reúnem com carros tocando música alta a noite toda, geralmente acompanhadas de substâncias ilegais e comportamento questionável. Isso ocorre bem ao lado de uma igreja católica, onde alguns indivíduos, sob a influência do álcool, urinam ao redor da igreja, aumentando a angústia dos moradores locais. 

Existe até uma regra entre os organizadores do evento que diz “não urine na porta dos moradores”, o que diz muito sobre a situação. Tudo isso acontece sem nenhuma supervisão dos órgãos reguladores, que parecem fechar os olhos para o caso. Muitos moradores que não toleram o barulho buscam melhores condições de vida geralmente se mudam para bairros mais caros, e eu sou um deles. 
Sempre que a situação se agrava e ganha notoriedade nas mídias devido à violência ou reclamações de moradores sobrecarregados, a resposta dos foliões é a mesma: “Esta é a única maneira dos pobres terem lazer; as pessoas não podem tirar isso de nós”.

Isso levanta a questão: tocar música alta a noite toda reflete falta de opções ou desrespeito aos limites e ao respeito mútuo?

Degradação cultural das músicas


Nos últimos anos, o cenário musical passou por mudanças significativas. Músicas de épocas anteriores costumavam transmitir mensagens com valor social e emocional, enquanto as atuais parecem focar em conteúdos superficiais e de consumo rápido.

Um dos principais fatores dessa degradação é a produção em massa, onde a indústria prioriza a quantidade em detrimento da qualidade. Com a facilidade da distribuição digital, as músicas são criadas rapidamente, muitas vezes sem o cuidado necessário para deixar um impacto cultural duradouro. Além disso, a velocidade do consumo, especialmente entre a Geração Z, leva à busca por conteúdos de pouca ou nenhuma qualidade, resultando em canções que não provocam reflexão. As letras também têm se tornado, problemáticas, muitas vezes promovendo violência e desvalorização da mulher. Por fim, ritmos e melodias tradicionais que representam a identidade cultural está sendo substituídos por gêneros que priorizam batidas simples e letras vazias que visa somente o barulho ao invés de um enriquecimento musical. Apesar disso, a música ainda é uma ferramenta poderosa de expressão cultural, e o desafio está em encontrar um equilíbrio entre entretenimento e mensagens construtivas e o principal respeitando as pessoas.

Educação e Respeito ao Próximo


Sabemos bem que a pobreza não é novidade no Brasil, nossos pais e nossos avós certamente passaram por situações de pobreza e por vez até piores que a geração atual. Mas, ainda, sim, mantinham valores de respeito e cuidado com o próximo. Atualmente, porém, observa-se um aumento, na prática de músicas em alto volume, muitas vezes em horários inadequados e com letras que promovem conteúdos negativos, como apologia ao crime e degradação de mulheres. Isso levanta a hipótese de que a questão do som alto pode estar mais associada à educação — ou desrespeito — do que à pobreza em si.

Impactos na Convivência.


Os efeitos do som alto vão além do desconforto. Eles afetam o direito de qualquer pessoa descansar após um dia exaustivo de trabalho, onde muitos buscam apenas a tranquilidade para enfrentar o dia seguinte. Além de prejudicar a qualidade de vida, o barulho atrapalha aqueles que estão estudando em busca de um futuro melhor para si e suas famílias, e pode gerar conflitos entre vizinhos, que em casos extremos, podem levar a tragédias. É importante lembrar que o direito de um termina quando começa o do outro, e mesmo que pensemos que essas atitudes não terão consequências, devemos considerar que um dia também poderemos precisar de paz e não a encontraremos.

Impacto na Convivência: Caso Real


Tive uma vizinha que, juntamente com sua família, vivia ouvindo música alta. Quase todos os dias, eles faziam barulho, mas a situação piorava nos finais de semana, quando costumavam fazer festas até tarde. Por conta disso, resolvi me mudar. Com o tempo, outros moradores também deixaram o local, e novos inquilinos chegaram. Durante uma visita a parentes que ainda moram perto da antiga casa, soube que a vizinha barulhenta adoeceu e não tinha mais ânimo para festas, pois, sua doença era terminal. Um dos novos moradores também gostava de som alto, e quando a vizinha que estava doente pediu para ele abaixar o volume, ele respondeu que ela e a família sempre ouviam música alta e que agora, devido à doença dela, pede para ele parar. Essa é uma história real que ilustra bem a situação, do impacto negativo que uma má convivência entre as pessoas pode causar.

O que leva as pessoas a ouvirem som tão alto?


1. A transição entre geração: mostra que a geração Z cresceu em um mundo digital, com fácil acesso à música. No entanto, a principal preocupação nessa mudança, especialmente em áreas periféricas, é a desrespeito básico entre a geração anterior, sendo pouco mais velha que a geração Z.

2. Leis não aplicáveis: mesmo com legislações que limitam o volume de som, a fiscalização é ineficiente e na maioria até condescendente.

3. Válvula de escape: para muitos, a música alta é uma forma de aliviar tensões e frustrações diárias.

4. Desrespeito como desculpa: O ato de ouvir som alto pode ser explicado por fatores como a falta de educação cívica, resultando na desconsideração pelos direitos dos outros. No entanto, é possível observar que, mesmo em tempos em que nossos pais ou avós eram pobres e tinham uma educação limitada, eles demonstravam mais respeito e convivência social.

Reflexão Final


O barulho intenso em áreas periféricas pode ser visto como uma forma de expressão cultural ou uma maneira de lidar com a pobreza, mas é importante pensar em como isso afeta a convivência entre as pessoas. Não sabemos o que o futuro nos reserva; podemos ser aqueles que um dia buscaremos tranquilidade e não a encontraremos, lembrando que juventude e saúde não são eternas.

A educação formal, tanto quanto cívica, é indispensável para a criação de uma sociedade mais justa e respeitosa, independentemente da educação oferecida pelo estado ou não. O ato de respeitar o próximo requer a reflexão de que podemos um dia ser um de nós que buscaremos paz e tranquilidade.










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