Sobrenome da Escravidão!
O Peso do Sobrenome: A Escravidão e Suas Consequências no Acesso ao Crédito no Brasil
Tenho uma teoria que pode soar conspiracionista, mas que acredito ser totalmente viável, partindo do pressuposto da observação do cotidiano: o seu sobrenome pode influenciar diretamente suas chances de conseguir empréstimos, educação, moradia, segurança em diversas instituições, seja elas financeiras ou não inclusive aquelas ligadas ao governo.
Existiu uma Abolição da Escravidão?
A escravidão no Brasil durou mais de três séculos e foi um dos períodos mais desumanos da nossa história. Milhões de africanos foram forçados a trabalhar em condições cruéis, principalmente nas plantações de cana-de-açúcar e, posteriormente, no cultivo do café. Apesar da abolição oficial em 1888, a falta de políticas de inclusão social perpetuou a marginalização da população negra. O racismo estrutural e a desigualdade econômica que vemos hoje são reflexos diretos desse passado.
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Foto: Reprodução |
O Sobrenome Como Marca da Escravidão
No Brasil, muitos sobrenomes comuns são heranças da escravidão. Durante esse período, pessoas escravizadas recebiam sobrenomes de seus senhores ou da Igreja no batismo. Alguns exemplos:
Silva — Atribuído a libertos sem outro nome de família.
Santos — Muito usado por batismos católicos.
Souza/Sousa — Genérico, adotado por muitos libertos.
Oliveira, Almeida, Conceição, Nascimento, Pereira, Carvalho, Cruz — Sobrenomes comuns herdados de senhores ou impostos no batismo.
Muitos ex-escravizados também adotaram os sobrenomes de seus antigos donos, explicando a frequência de nomes portugueses como Barbosa, Costa, Ferreira, Rocha entre afrodescendentes.
O Peso do Sobrenome na Concessão de Crédito
Ainda hoje, pessoas com sobrenomes historicamente ligados à escravidão podem encontrar mais dificuldades para acessar crédito. Algumas razões para isso incluem:
- Menor acúmulo de patrimônio — Um estudo do Ipea revelou que a distribuição do crédito no Brasil é desigual, com maior concentração de recursos nas regiões mais ricas, e entre as pessoas mais ricas, o que impacta populações historicamente marginalizadas.
- Preconceito inconsciente — Pesquisa da Revista dos Tribunais mostrou que 79% da população negra relataram discriminação ao solicitar crédito.
- Sistemas automatizados com viés — Estudos indicam que algoritmos financeiros podem reproduzir preconceitos históricos, favorecendo candidatos brancos e perpetuando desigualdades socioeconômicas. Bom exemplo que podemos ter tem relação com SERASA, embora talvez não atue com intenção de descriminalizar, pode acabar contribuindo na desigualdade.
Um exemplo disso é o BNDES, cujo portal da transparência mostra que a maioria dos empréstimos é concedida a grandes empresas, alguma delas endividadas ou envolvidas em corrupção, você pode consultar no portal da transparência da própria instituição, segue o link, BNDES PORTAL TRANSPARÊNCIA. Enquanto isso, um pequeno empresário com um sobrenome comum pode encontrar barreiras para conseguir financiamento para iniciar um negócio.
A Estrutura da Discriminação Atual
Pessoas com sobrenomes derivados da escravidão enfrentam dificuldades que vão além do crédito financeiro:
Dificuldades financeiras — A falta de herança econômica perpétua a pobreza.
Violência policial — A maioria das vítimas de abordagens violentas da polícia tem sobrenomes comuns da população negra.
Acesso precário à moradia — A falta de oportunidades financeiras impacta diretamente a capacidade de aquisição de moradia digna.
Educação de baixa qualidade — O acesso desigual à educação perpétua, a exclusão social.
De acordo com um estudo da Universidade Federal de Santa Maria, algoritmos podem reforçar estereótipos raciais, afetando negativamente a percepção e as oportunidades de indivíduos negros. Além disso, um artigo na Revista Brasileira de Estudos Políticos analisa como o racismo estrutural reproduz e agrava desigualdades sociais no Brasil.

Se a Escravidão Voltasse, Quem Seria os Escolhidos?
Se, hipoteticamente, o Brasil precisasse retornar ao tempo da escravidão, quais seriam as pessoas escolhidas para esse ofício forçado? A resposta é perturbadoramente óbvia: negros e aqueles com sobrenomes comuns. A história nos mostra que a exclusão social tem padrões, e se houvesse um retrocesso social, as mesmas populações marginalizadas voltariam a ser as primeiras a sofrer. Vulnerabilidade econômica, a falta de proteção política e os estigmas sociais fariam dessas pessoas as candidatas “naturais” para a exploração, como já ocorreu no passado, talvez agora com um pouco mais de resistência.Conclusão: Somos Realmente Livres da Escravidão?
A abolição retirou a “as correntes” física dos nossos pés, mas o peso da escravidão ainda recai sobre seus descendentes. Sem políticas efetivas de reparo histórico e combate ao racismo estrutural, a liberdade continua sendo uma ilusão para muitos brasileiros. Se o sobrenome ainda pesa na tomada de decisões econômicas e sociais, então a escravidão, de certa forma, nunca acabou.
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