O que precisamos saber sobre a culpa de Deus?
A Culpa de Deus?
Transferir a responsabilidade é muito mais confortável ao ter que assumi-la. claudio silva
Tempo de leitura 3 minutos.
Frequentemente, observo que muitos cristãos, quando confrontados com momentos de dificuldade, provações ou conquistas, recorrem a certos bordões. Permita-me listar alguns:
“Deus é amor, mas também é justiça.”
“Deus permitiu que você passasse por isso.”
Os exemplos são inúmeros, mas vamos nos concentrar nesses para entender o ponto que desejo abordar. Há uma canção de Thalles Roberto que aprecio muito e que acaba corroborando com o post aqui: “É fácil demais viver em paz, a gente é que complica tudo”. Você pode até não ser fã dele, mas duvido que não concorde com esse trecho da canção.
![]() |
Foto: Canva-Claudio Silva |
Justiça Punitiva ou Atos de Justiça?
Vamos ao que realmente importa, Deus é justiça? Certamente. Ele aprecia quando somos justos, mas não vejo Ele punindo pessoas aleatoriamente por puro capricho. Considere o exemplo de Abel e Caim. Segundo a lógica da punição descrita por muitos, um deles nem deveria ter continuado a existir, pois, a regra da punição deveria ser imediata. Esse é um tema para outro post. A justiça de Deus é para sermos amorosos reciprocamente o máximo que pudermos.
Quando nos irritamos com um irmão, seja lá por qual motivo, e em alguma circunstância essa pessoa precisa de nossa ajuda e acabamos ajudando, não realizamos só um ato de amor, mas também exercemos um ato de justiça. Justiça? Sim, nos somos acometidos por atributos, chamado, atos de justiça, amor, retidão, imparcialidade, compaixão. Todos esses atributos são bons aos olhos de Deus, e quando acabamos sendo justos para aquela pessoa que não foi com conosco em algum momento oportuno, não só demonstramos isso para nossa vida como também acaba por ensinar a outros atos de justiça importantes. Se a pessoa estará disponível para aprender é outra questão. Sabemos muito bem que existem certos tipos bem difíceis de lidar, mas outros não. Tudo que muitos precisam é somente de exemplo, pois, se não houvesse o exemplo máximo de Jesus, até nos mesmos, estaríamos sujeitos a passarmos por dificuldades.
Aqui, quero enfatizar que não é errado orarmos e esperar que Deus responda às nossas orações. Não há nada de errado nisso. No entanto, existem algumas situações que as pessoas atribuem tudo a cargo de Deus, sendo que elas mesmas poderiam resolver algumas das próprias condições.
Na mão ou Deus, ou em nossas Mãos?
Tenho um grande colega que tem um glorioso bordão: “o não você já tem”. O que ele quer dizer com isso? Que muitas vezes ficamos impedidos de tomar certas atitudes por receio, medo ou vergonha, então fica mais fácil, transferir a responsabilidade. Passarei alguns exemplos:
A Cadeira: Uma Lição de Autonomia.
Começarei com uma experiência pessoal. No meu local de trabalho, havia uma cadeira de escritório praticamente sem uso. Como estava precisando de uma, decidi adotar o famoso bordão do meu amigo: “o não você já tem”. Embora não seja do meu feitio, deixei a timidez de lado e pedi a cadeira. Recebi um sonoro “não”. Poderia ter desistido? Sim. Como sabia que a pessoa proprietária da cadeira em questão valoriza muito o dinheiro e, certamente, teria vendido se oferecesse um valor pela mesma. Foi exatamente o que fiz e deu certo. Agora, imagine se eu tivesse simplesmente “deixado tudo nas mãos de Deus”, sem usar o dom a habilidade da fala que Ele me deu para pedir, ou negociar algo tão simples.
O Salário: A Importância da Comunicação.
Tenho um amigo que trabalhava em um ambiente caótico. Quem trabalha sabe como é, não é mesmo? Trabalhava por três ou quatro, ganhava por um, fazia horas, extras, trabalhava nos finais de semana, etc. Percebi que ele estava bastante exausto e perguntei se esse trabalho estava lhe fazendo bem. Ele respondeu gostar do trabalho e também precisava dele. Não era sempre assim, mas a maior queixa que tinha era saber que fazia de tudo e não ganhava o que deveria. Indaguei por que ele não conversava com a pessoa responsável sobre sua insatisfação. Se ele acreditava ser importante para a empresa e que não havia possibilidade de ser demitido apenas por pedir um aumento de salário que achava que era devido. Por que não falar? Adivinhe a resposta: “já entreguei nas mãos de Deus!” Adivinhe o que aconteceu? Outra pessoa foi promovida, ele ficou mais irritado, acabou indo conversar com o chefe transtornado, explicou a carga que suportava na empresa, e as contribuições. Para resumir, o chefe disse a ele que o RH não passava as informações da maneira que ele mesmo explicou. Algum tempo depois, ele foi promovido e descobriu-se que uma, pessoa responsável pelo setor de recursos humanos não gostava muito dele. Você entendeu? Algumas coisas são simples.
O Salário: Simplicidade da Ação.
Pode parecer simples falar, mas acredite, é mais comum do que imaginamos, principalmente quando exercemos nossa atividade com maestria. Podemos até sermos substituídos, pois, todos somos substituíveis, mas uma coisa é certa, encontrar alguém igual certamente será difícil, principalmente se somos competente no que fazemos.
Semelhante ao testemunho do colega acima, comecei em uma empresa com um salário muito baixo, pois, não possuía muita experiência. Em pouco tempo, me tornei habilidoso na atividade, e a carga de trabalho só aumentou, até chegar a um ponto em que tinha praticamente três estados para realizar o trabalho sozinho, algo que não dava conta. Foi solicitado outros colegas de trabalho da matriz para ajudar. Resumindo, concluí o meu serviço perfeitamente, enquanto as pessoas que foram chamadas deixaram seus serviços incompletos, os quais meu coordenador exigiu que eu corrigisse. Disse que não iria, pois, o serviço não era meu. Ele me questionou, perguntando se eu tinha certeza, pois, ele passaria tudo o que falei para o proprietário da empresa. Certamente, respondi que sim. Um dia depois, o proprietário me ligou, conversamos e ele perguntou sobre a situação. Expliquei tudo para ele, todo o meu trabalho que fiz perfeitamente e que não era justo um aumento de carga e responsabilidade enorme para pouco reconhecimento da empresa. No final de tudo, com aproximadamente um ano na empresa, meu salário era um dos maiores.
Não estou aqui querendo dizer que é simples, cada um possui suas dificuldades, mas pense bem! Existem coisas que só você pode resolver, deixar tudo nas mãos de Deus pode ser um erro que te cause alguma frustração futura e Deus não terá nada a ver com isso. O ato mais louvável, sem sombra de dúvida, é orar pedindo sabedoria para o momento em que vai passar ou resolver e enfrentar, sem distribuir a responsabilidade.
Deus Permite? Uma Reflexão!
Permita-me fazer uma pergunta sincera: você acredita que Deus permite que passemos por sofrimento somente para provar algo? Uma doença, crise financeira, crise de relacionamento. Ele permite? Será que não somos nós mesmos que nos permitimos passar por momento de dificuldade. Considero um grande erro uma pessoa acreditar que está passando por algum problema e pensar que foi permissão de Deus. Orei pouco, ou não frequentei a igreja o suficiente, ou até mesmo não contribuí para ajudar os pobres. Pense bem! Você é fiel à igreja e, em um simples deslize, lá vem o castigo, a suposta permissão de Deus, ou simplesmente um acaso da vida! Você certamente se perguntará: e a história de Jó? Eu lhe farei outra pergunta: Deus permitiu ou já sabia que tudo aconteceria com Jó, e então, através da dificuldade que sabia que Jó passaria, Ele testemunhou a fidelidade de Jó?
Pense bem! Jó era um homem íntegro diante do Senhor e, mesmo assim, coisas ruins aconteceram com ele. Se o fato de sermos totalmente retos e íntegros nos livrasse de sofrer as mazelas da vida, seria intrinsecamente bom, não seria? Mesmo sendo você o melhor do melhor, tenha certeza de que isso não impedirá o sofrimento ou alguma dor. No entanto, você será mais forte para atravessar o deserto e se superar, a partir do momento que souber que certos tipos de dificuldades, estão inerentes a todo tipo de pessoa, seja ela o melhor cristão do mundo ou não. O que difere uns dos outros e justamente como decidimos encarar o momento, foi justamente o que tornou Jó diferente dos outros.
Antes, eu tinha essa mesma visão. Quando estava maravilhosamente bem, em oração, em jejum, e mesmo assim as coisas ruins aconteciam. E pensava comigo: deve ter sido porque não jejuei um pouco mais, ou ocultei alguma verdade, ou falei algum palavrão, ainda que no pensamento. São infinitas as possibilidades. Pensava que Deus permitiu que eu passasse por este momento, ou até mesmo um castigo. E, no final de tanto esforço, achava que nunca conseguiria ser 100% certo e ficava com um sentimento de frustração e questionamentos a Deus. Com muito esforço, comecei a perceber que, independentemente de qualquer coisa, as coisas ruins aconteceram comigo, assim como as boas. Só que algumas delas eu posso antecipar, outras não.
Observe essa história: se eu saio de casa atrasado, mesmo sabendo que deveria sair antes, e no percurso sofro um acidente leve ou tomo uma multa, isso não foi permissão de Deus, foi algo que mesmo provoquei.
Vamos intensificar:
Havia uma mãe de um vistoso rapaz, na flor da idade da adolescência, que ainda era tratado como um filhinho, menor de idade, uma criança inocente. E a mãe nunca entendia isso. Certo dia, a criança cresceu e fez um filho, e posteriormente mais três, e a mãe não entendia que o filho cresceu. Certo dia, ele descobriu que a mulher com quem ele teve quatro filhos já não servia mais e a mãe ainda não aceitava que seu filho cresceu e compactuava com todas as decisões incorretas dele. Ela o sustentava, dava-lhe de tudo: casa, comida, roupa lavada. A adolescente, com quem ele já tivera quatro filhos, não possuía, nenhuma experiência, e agora estava se vendo em um loop, espiral, sendo uma moça tão jovem, cheia de vaidade, mas com quatro filhos, e com uma enorme vontade de curtir a juventude. E, no final das contas, eram brigas e mais brigas, e a mãe sempre intervindo pelo filho amado. E a mãe? Bom, ela começou a ficar doente, com muitas dores, aflições, preocupações, passou a frequentar hospitais, devido à crise no relacionamento do filho que a atingia negativamente. Certo dia ouvir a seguinte frase das pessoas que a rodeavam: “Deus permitiu você passar por isso, para sair mais forte e provar a sua fé”. E no final ela acabou falecendo, Coitado de Deus.
Analisando:
Deus não permitiu nada. Nós permitimos. Se a mãe tivesse permitido que o filho, maior de idade, que teve a capacidade de colocar quatro filhos no mundo, assumisse responsabilidades, sem a complacência dela, assumindo as dores que não eram inerentes a ela, certamente ainda estaria viva e contemplaria que o filho, após não ter mais a presença de sua amada mãe, teve a capacidade de assumir as responsabilidades que a fase adulta, na maioria das vezes, exige.
Conclusão:
Na maioria das vezes, muitas coisas que acontecem em nossas vidas são de inteira responsabilidade nossa, e deixar atitudes que somos capazes de resolver ou transferi-las, acredite, nos torna cada vez mais fracos, diante das adversidades que este mundo nos confronta, onde muitas vezes a carga é maior que podemos suportar. Quanto mais experiência obtivermos melhor será, quanto mais tomarmos conhecimento desses atos e assumirmos que temos o controle, torna-se mais fácil entender o erro, posteriormente corrigi-lo ou ter que suportá-lo. São atos inerentes e em sua maioria praticados por nós mesmos, so que fica muito mais cômodo transferir a responsabilidade a ter que assumir. Por isso, "é fácil demais viver em paz, a gente é que complica tudo", na grande maioria das vezes.
Amém glórias ao nosso Deus 🤚
ResponderExcluir