Roupas: Entre a Função e a Objetificação
A Sexualização das Roupas: Uma Análise Abrangente e Atualizada.
Tempo de leitura 3 minutos.
Introdução:
A sexualização do corpo feminino, lamentavelmente, transcende os tempos modernos. Desde figuras como Afrodite e Cleópatra, historicamente retratadas como símbolos sexuais através de roupas que acentuavam suas curvas, essa prática esteve enraizada em diversas culturas, muitas vezes como ferramenta de barganha ou controle.
Embora o feminismo tenha moldado pensamentos, costumes e até culturas, a sexualização das roupas femininas permanece presente. Observamos exemplos como mulheres que, em protestos ou buscando visibilidade para suas mensagens, expõem seus corpos provocativamente. O lema “meu corpo, minhas regras”, frequentemente utilizado pelo movimento feminista, gera debates acalorados na ‘internet’, abrangendo principalmente o direito da mulher de se vestir como desejar, sem sofrer assédio, logicamente uma premissa verdadeira. Mas o que podemos falar se a forma de protestar ou reivindicar utiliza-se, justamente o corpo sexualizado como forma de visibilidade!
Este post visa transcender a dicotomia do que é “certo” ou “errado” no quesito, vestimenta feminina. O objetivo central é apresentar, com base em pesquisas e estudos, uma análise profunda da questão: as mulheres são mais atraentes sexualizando as roupas?
Sexualização na Antiguidade, Visão histórica.
A sexualização na Antiguidade é um tema que envolve diversas figuras históricas. Cleópatra, a última rainha do Egito, é frequentemente interpretada e mitificada com foco em sua sexualidade. Ao longo dos tempos, sua imagem foi moldada por narrativas que exaltam sua beleza e utilizam a sedução como ferramenta de barganha.
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Cleopatra and Caesar - Jean-Léon Gérôme |
Outra figura menos conhecida, mas de grande importância, é Aspásia de Mileto. A estudiosa, Madeleine M. Henry destaca que Aspásia é descrita por escritores antigos conforme seus vieses individuais, dificultando traçar um retrato claro de quem ela era e do que realizou. Escritores antigos, de Platão a Plutarco, a caracterizaram de acordo com suas necessidades particulares. Assim, um leitor moderno deve avaliar os diversos relatos para tentar chegar a um consenso sobre quem Aspásia realmente foi.
Em tempos modernos, Aspásia é reconhecida como uma apoiadora da educação em Atenas. Ela ultrapassou as limitadas expectativas impostas às mulheres ao fundar uma renomada escola para meninas e um salão popular, onde especula-se que poderia ser um prostíbulo. Aspásia vivia livre do isolamento feminino e se comportava como um intelectual do sexo masculino, discorrendo sobre eventos contemporâneos, filosofia e retórica. Seus admiradores incluíam o filósofo Sócrates, o professor Platão, o orador Cícero, o historiador Xenofonte, o escritor Ateneu, o estadista e general Péricles, seu adorado marido consensual (The Oxford Classical Dictionary, 1992).
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Aspásia cercada por filósofos gregos, óleo sobre tela de Michel Corneille. |
Você pode estar se perguntando! Por que histórias tão antigas para discutir a sexualização das roupas femininas? Contextualizaremos para clarificar o assunto. Considere as notícias que frequentemente ouvimos na televisão sobre mulheres que supostamente seduzem pessoas influentes a exemplo, jogadores de futebol como Robinho, Daniel Alves ou Neymar Jr. Muitas vezes, elas usam de atributos sexuais para seduzirem e se aproximarem de pessoas influentes para tentarem barganhar ou conquistar o que desejam. Um jeito simples, mas eficaz de alcançar objetivos com clareza, utilizando-se do corpo como atributo de sexualização, usando como principal característica a sexualização através das roupas.
Um exemplo clássico do uso de vestimentas e atributos corporais envolve a atriz de filmes eróticos Stormy Daniels e o ex-presidente Donald Trump, em que a atriz alega ter tido um relacionamento com ex-presidente americano.
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Foto: Daniels Markus Schreiber |
Outro caso notório e o de Marilyn Monroe e o 35.º presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, são frequentemente mencionados em especulações sobre um possível caso entre ambos. Ao observarmos os atributos corporais e vestimentas da icônica atriz, sendo um dos maiores símbolos sexuais de sua época, fica evidente que as vestimentas foram utilizados como uma forma de sexualização para seduzir e, assim, alcançar objetivos.
Published by Corpus Christi Caller-Times-photo from Associated Press
Podemos nos questionar se, à primeira vista, tais atitudes não parecem memoráveis, dado que envolvem pessoas de elevado posição social ou não, que conquistam objetivos através da sexualização. No entanto, essa condição é universal? Obviamente, não. Trarei agora a principal abordagem deste texto.
A sexualização das roupas nas classes comuns.
A sexualização de diferentes classes de pessoas, que não têm a intenção de manipular ou controlar através de atributos físicos sexualizados pelas roupas, merece uma análise mais profunda. Isso inclui mulheres de diversas idades e contextos sociais, desde jovens, adolescentes a senhoras, que podem ver na sexualização através das vestimentas uma forma de se sentirem atraentes.
Consideremos, por exemplo, mulheres de localidades menos favorecidas que possuem atributos corporais e utilizam vestimentas que as destacam fisicamente, sexualizando o corpo ao se exibirem objetificando o corpo. Roupas curtas, blusas quase inexistentes ou transparentes. Festas pejorativas, como bailes funk, pancadões, paredões e baladas, são exemplos de locais e comportamentos onde muitas mulheres buscam se sexualizar.
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Adolescentes fazem dança com forte apelo sexual em festa (Reprodução) |
Até aqui, podemos pensar: quanta bobagem, “meu corpo, minhas regras”. Concordo com você, mas o que ocorre é que muitas mulheres agem assim por influência, seja da mídia, das plataformas digitais e principalmente de um passado que transcendem tempos atuais. Acreditando que essas ações as tornam mais atraentes e cobiçadas, sendo que em algum momento muitas desejaram, independentemente da classe social, levar uma vida mais estável, isso será possível?
Aqui está outro dilema: as mulheres realmente precisam se sexualizar para se sentirem atraentes? Nesta parte final desse post, descobriremos que não.
Um estudo sobre a sexualização online.
Vamos analisar o que uma pesquisa revela sobre o tema. Antes disso, é importante entender a perspectiva de alguns pesquisadores e o contexto da sexualização.
De acordo com a Associação Americana de Psicologia, a sexualização é definida por quatro critérios principais:
1. Valorização exclusiva pelo apelo sexual: a valoração de uma pessoa é baseada apenas em seu apelo ou comportamento sexual, excluindo outras características pessoais. Isso significa que outras qualidades e habilidades da pessoa são ignoradas em favor de sua aparência ou comportamento sexual.
2. Equiparação de atratividade física a ser sexy: uma pessoa é julgada ou avaliada com base em um padrão que iguala atratividade física, estritamente definida, a ser sexy. Essa avaliação se concentra em uma definição estreita de beleza e atratividade, associando diretamente essas características à sexualidade.
3. Objetificação sexual: uma pessoa é transformada em um objeto para uso sexual de outros, em vez de ser vista como um indivíduo com capacidade de ação independente e de tomada de decisão. Isso reduz a pessoa a um mero objeto de prazer sexual, desconsiderando sua autonomia e personalidade.
4. Imposição inadequada da sexualidade: a sexualidade é imposta de maneira inadequada a uma pessoa, independentemente de sua vontade ou contexto. Isso pode incluir situações onde comportamentos, vestimentas ou contextos sexuais são forçados a alguém de maneira inapropriada.
Esses critérios podem existir isoladamente ou em combinação, e qualquer indivíduo pode ser sexualizado, independentemente do sexo. A gravidade da sexualização varia e pode ser vista ao longo de um continuum, desde avaliações menos extremas até formas mais severas de desumanização.
Análise sobre sexualização online!
Esse estudo analisa perfis de relacionamentos online, dividindo-os em duas categorias: perfis sexualizados e perfis não sexualizados. Participaram do estudo 262 universitários heterossexuais (166 mulheres e 96 homens). Eles foram aleatoriamente designados para avaliar dois candidatos a namoro online, sexualizados ou não sexualizados, do sexo oposto. Os resultados indicaram que os proprietários de perfis sexualizados foram avaliados de forma inferior em competência, simpatia, atratividade social e foram percebidos como mais propensos a sofrer abuso sexual em encontros cibernéticos.
Perfis de Relacionamentos Sexualizados.
— Percepções Negativas: proprietários de perfis sexualizados são frequentemente vistos como menos competentes, menos apreciados e menos socialmente atraentes. Eles também são percebidos como menos propensos a buscar relacionamentos de longo prazo.
— Riscos de Abuso e Assédio: esses perfis têm uma maior probabilidade de sofrer abuso sexual e agressão em encontros cibernéticos. A autorrepresentação sexualizada pode atrair mensagens indesejadas e assédio, aumentando o risco de experiências negativas online.
— Associação com Relacionamentos Casuais: perfis sexualizados tendem a ser associados com a busca por relacionamentos de curto prazo ou casuais, com ênfase na atratividade física como principal critério de avaliação.
Perfis de Relacionamentos Não Sexualizados.
— Percepções Positivas: proprietários de perfis não sexualizados são vistos de forma mais positiva, sendo considerados mais competentes, apreciados e socialmente atraentes. Eles também são mais frequentemente percebidos como interessados em relacionamentos de longo prazo.
— Menor Risco de Abuso: esses perfis têm menor probabilidade de sofrer abuso sexual ou assédio em encontros cibernéticos, pois, sua autorrepresentação não atrai o mesmo nível de atenção negativa que perfis sexualizados.
— Associação com Relacionamentos Sérios: Perfis não sexualizados são associados com a busca por relacionamentos sérios e de longo prazo, onde a atratividade física não é o único critério de avaliação. A percepção é de que esses indivíduos buscam conexões mais profundas e significativas.
Essas descobertas ressaltam a importância da autorrepresentação online e como diferentes estilos podem influenciar a percepção e as experiências de relacionamento dos indivíduos.
O objetivo deste post não é incentivar ou induzir ninguém a buscar relacionamentos online, pois, não conhecemos as intenções das pessoas do outro lado da tela. O principal propósito é demonstrar, através da pesquisa, que pessoas que se sexualizam em suas vestimentas ou de qualquer outra forma são mais objetificadas com conotação sexual do que aquelas que se vestem de maneira mais adequada, não objetificando assim o próprio corpo como uma medida de atrair alguém.
Conclusão:
Como mencionado anteriormente, a sexualização das roupas e do corpo é uma prática que remonta aos primórdios da humanidade, e é pouco provável que consigamos mudar essa retórica na sociedade. No entanto, o objetivo aqui é que possamos refletir quando possível, se é verdadeiro acreditar que uma vestimenta sexualizada torna a pessoa mais, atraente ou desejada. A pesquisa, na verdade, sugere o contrário.
Para finalizar, deixarei aqui duas imagens de pessoas com diferentes vestimentas para podermos analisar e refletir sobre qual delas, em sua opinião, transmite uma imagem mais adequada e positiva.
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Por: Claudio Silva |
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