O Ventríloquo do Engajamento.

O Ventríloquo do Engajamento, quando a manipulação ultrapassa os próprios valores!



Introdução.


Em um dia comum, enquanto me encontrava confortável em meu sofá, um episódio surpreendente ocorreu que ilustra de maneira eficaz o fenômeno do engajamento nas redes sociais. Minha esposa, visivelmente atenta, assistia a um vídeo no Instagram onde um indivíduo, possivelmente um pastor vinculado a uma determinada igreja, abordava acaloradamente o mais recente videoclipe da renomada cantora Anitta. Para adicionar complexidade à discussão, o orador fez menção a outro clipe, este da icônica Daniela Mercury, onde segundo ele, a cantora estaria sendo possuída por uma entidade. Intrigada pelo conteúdo, minha esposa decidiu investigar mais sobre o assunto nas mídias sociais. Este episódio singular encapsula a essência do que exploraremos a seguir: o poder indomável do engajamento nas plataformas digitais.




É inegável que, atualmente, somos reféns do tempo que dedicamos às redes sociais. Dados apontam que, em média, os brasileiros passam cerca de quatro horas por dia navegando em plataformas como WhatsApp, Instagram, Facebook e TikTok. Este hábito coloca o Brasil em uma posição proeminente entre os países que mais consomem tempo nessas redes. À primeira vista, quatro horas parece uma quantia insignificante em nossas rotinas diárias; no entanto, ao longo de um ano, esse tempo se acumula, resultando em aproximadamente 56 dias dedicados exclusivamente a interações virtuais. Multiplicando essa rotina por vários anos, a soma se torna verdadeiramente impressionante. Por outro lado, o foco deste texto não se restringe a números, mas sim às implicações do engajamento que essas interações geram.


A dinâmica do engajamento.


Ao observar a dinâmica das plataformas, especialmente no YouTube, percebo um padrão que se repete incessantemente: a proliferação de influenciadores e youtubers que, propositadamente ou não, cometem erros que aparentam ser simples, mas que evidenciam a tática utilizada para gerar engajamento. Situações em que palavras corriqueiras são pronunciadas de maneira equivocada ou em que ações consideradas absurdas são protagonizadas por essas personalidades digitais são frequentemente recebidas com risadas e comentários de incredulidade pelo público. Esses episódios revelam um aspecto peculiar do engajamento: a capacidade de transformar falhas e absurdos em conteúdo altamente engajável.


Embora esses erros possam parecer triviais, eles geram um ciclo de interações que impulsiona o engajamento, desafiando a lógica em um mundo saturado de informações e distrações. Cada visualização e cada compartilhamento se somam, alimentando um algoritmo que prioriza o que se mostra mais “cativante” para o público. A busca incessante por likes, views e seguidores muitas vezes leva os criadores a adotarem posturas cada vez mais extremas, na tentativa de se destacar em um espaço digital repleto de concorrência. Isso levanta questões sobre os limites da autenticidade e a qualidade do conteúdo produzido.



A Estratégia do Engajamento.



A estratégia do engajamento se tornou uma das principais ferramentas utilizadas nas redes sociais para capturar a atenção do público, muitas vezes utilizando abordagens controversas ou sensacionalistas. A dinâmica é clara: quanto mais comentários e reações um determinado conteúdo gera, maior é a sua visibilidade nos algoritmos das plataformas, tornando-se, assim, mais atrativo para uma audiência potencial. No entanto, essa busca incessante por likes e compartilhamentos pode distorcer a percepção da realidade e transformar experiências pessoais em mercadorias.


Um exemplo emblemático dessa dinâmica foi o ocorrido com o influenciador digital Paulo Muzy, que se tornou o centro das atenções após uma postagem polêmica de sua esposa no Twitter, atualmente denominado “X”. A repercussão foi notável; comentários depreciativos e zombarias proliferaram rapidamente, indicando como uma simples postagem pode desencadear um ciclo de engajamento efêmero, mas intensamente viral. O uso de frases provocativas e humor sarcástico nos comentários, como o famoso “Paulo Muuuuuuuuuuuuuzy”, exemplifica como o público se envolveu ativamente, alimentando essa máquina de interação, muitas vezes à custa da dignidade pessoal.

Imagem do twitter. 




Este fenômeno não é isolado a influenciadores de áreas específicas, mas se estende por diversos nichos, incluindo conteúdos relacionados a temas cristãos. A cena contemporânea nas redes sociais é repleta de situações em que pessoas buscam ser o centro das atenções, muitas vezes explorando tragédias pessoais ou situações embaraçosas. Entre lágrimas diante do espelho ou encenações de dramas cotidianos, muitos influenciadores fazem da vulnerabilidade humana um produto, transformando experiências de dor em capital, com o objetivo de garantir a sua relevância nas plataformas digitais.

Foto: Reprodução




É alarmante observar que, para alguns, o que poderia ser uma experiência dolorosa ou um motivo de vergonha se torna, na verdade, uma estratégia de monetização. Não importa se essa exposição é feita em nome da dor ou da manipulação; o que verdadeiramente importa é estar no centro da visibilidade. A reflexão que se impõe diante desse cenário é sobre o custo da busca incessante por atenção nas redes sociais e como a autenticidade, muitas vezes, cede lugar a um espetáculo superficial que prioriza o engajamento em detrimento da substância. Assim, a estratégia do engajamento, apesar de eficiente, levanta questões importantes. Qual pessoa em sã consciência, que possui um relacionamento saudável, ficaria postando conteúdo que gera uma certa polêmica, se não for somente em nome do engajamento?




Potencializando o Engajamento: Uma Reflexão Crítica!


O engajamento nas redes sociais é um tema que merece uma análise cuidadosa, principalmente se você for de um público cristão, especialmente quando se trata de conteúdos que provocam controvérsia, como o recente clipe da artista Anitta, associado a uma suposta gravidez. É compreensível que figuras religiosas, como pastores, expressem preocupação diante da exposição de comportamentos que consideram sensíveis. No entanto, é crucial reconhecer que a artista em questão possui um público que consome e se identifica com esse tipo de conteúdo, mesmo que este seja considerado pejorativo sob uma perspectiva cristã.


Ao visualizarmos, compartilharmos e comentarmos sobre esses conteúdos, muitas vezes de forma involuntária, contribuímos para um aumento significativo do engajamento. Por exemplo, ao buscar informações sobre a veracidade da gravidez, muitos usuários acabam acessando o perfil da artista, gerando visualizações e interações que, de outra forma, não ocorreriam. Essa dinâmica revela um paradoxo: mesmo aqueles que não concordam com os valores expressos pela artista acabam alimentando sua visibilidade e relevância nas redes sociais.


É pertinente destacar que, pessoalmente, não consumo esse tipo de conteúdo e, ao me deparar com ele, opto por bloquear ou ignorar. Essa postura reflete uma escolha consciente de não apoiar o que considero um conteúdo que não agrega valor à minha vida. Contudo, a curiosidade humana muitas vezes nos leva a explorar o desconhecido, e isso pode resultar em um ciclo de engajamento que perpetua a presença desses artistas que, de acordo com valores éticos praticado por alguns, deveriam estar em ostracismo.


Assim, é fundamental que cada um de nós reflita sobre as implicações de nossas interações nas redes sociais. O engajamento, quando não direcionado de forma crítica, pode acabar promovendo conteúdos que não condizem com nossos valores pessoais. A vida, em sua essência, é complexa e a expressão artística, mesmo quando controversa, é um reflexo dessa realidade. No entanto, devemos ter a responsabilidade de escolher conscientemente o que promovemos e a quem damos visibilidade. Somente assim poderemos potencializar o engajamento de maneira que ele realmente reflita nossas crenças e valores.


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