Os Filhos Não Estão Preparados Para Cuidar dos Pais Idosos

Os Filhos Não Estão Preparados Para Cuidar dos Pais Idosos


Cuidar de pais idosos é um desafio que poucas pessoas estão realmente preparadas para enfrentar. A ideia de retribuir o cuidado recebido na infância parece lógica, mas, na prática, a realidade é bem mais complexa. Este texto busca explorar as razões por trás dessa falta de preparo e oferecer uma nova perspectiva sobre o tema.


Foto: Reprodução Pixabay-MabelAmber


O Cuidado Reverso: Um Desafio que Poucos Reconhecem


Na infância, somos dependentes de nossos pais para aprender, crescer e nos desenvolver. Eles nos ensinam a andar, falar, comer, e nos dão suporte emocional para enfrentarmos os desafios da vida. Porém, o envelhecimento muitas vezes segue um caminho oposto. Em vez de progredir, os idosos enfrentam um declínio físico e mental que pode transformar até as tarefas mais simples em grandes desafios.

Esse processo regressivo exige atenção constante e específica. Alimentar alguém que perdeu o apetite ou tem dificuldade para engolir, oferecer suporte em necessidades básicas como banho e higiene, ou monitorar medicamentos são apenas alguns dos aspectos que tornam o cuidado complexo. Além disso, mudanças comportamentais, como resistência ou irritabilidade, podem adicionar mais camadas de dificuldade.


Por Que os Filhos Não Estão Preparados?


Embora o desejo de cuidar dos pais seja genuíno, a falta de preparo é evidente por várias razões:


Falta de Treinamento e Conhecimento: Cuidar de um idoso não é algo que se aprende automaticamente. Muitas vezes, as condições de saúde dos pais demandam habilidades específicas, como manuseio de cadeira de rodas, adaptação de dietas ou gerenciamento de doenças crônicas, como Alzheimer e Parkinson.


Rotina de Vida Moderna: A maioria das pessoas enfrenta jornadas de trabalho longas, compromissos com os próprios filhos e outras responsabilidades que consomem o tempo. Ao contrário do que muitos pensam, com agendas tão cheias, dedicar atenção integral a um idoso torna-se quase impossível.  Outro quesito importante é sem dúvida fato de muitos filhos não possuírem recursos financeiros suficientes para cuidar de seus pais em tempo integral, o que resulta numa rotina exaustiva.


Impacto Emocional e Psicológico: Cuidar de um idoso pode ser emocionalmente exaustivo. Testemunhar o declínio de quem um dia foi a figura forte da família traz sentimentos de tristeza, impotência e culpa. O desgaste emocional, somado às cobranças externas, muitas vezes leva ao esgotamento, pois, em muitos casos, tarefas simples pode se tornar algo desafiador, como simples fato de dar uma alimentação ou manipular algum medicamento.


Conflitos Familiares e Históricos: Nem todos têm relações harmoniosas com os pais. Experiências passadas podem gerar ressentimentos que dificultam o cuidado. Além disso, idosos com personalidades mais ríspidas ou comportamentos difíceis podem intensificar os conflitos.


Os Desafios do Cuidado Diário


O dia a dia do cuidado com um idoso está longe de ser simples. Muitas pessoas subestimam o nível de demanda física e emocional envolvido. Alimentar um idoso que recusa comida, limpar após necessidades básicas ou lidar com insônia e agitação noturna são situações comuns. Isso sem mencionar o esforço de garantir que tomem remédios na hora certa ou de evitar complicações de saúde.

Além disso, a resistência emocional dos idosos também é um obstáculo. Muitos têm dificuldade em aceitar ajuda, seja por orgulho ou por medo de perder a independência. Esse comportamento pode levar a situações estressantes, como discussões e até episódios de agressividade.


Delegar Cuidado é Realmente Errado?


Quando os filhos decidem colocar os pais em lares de repouso ou contratar cuidadores, frequentemente enfrentam julgamentos. Porém, essa decisão muitas vezes é mais sensata do que insistir em um cuidado que não podem oferecer de forma adequada. Profissionais capacitados em instituições especializadas têm o treinamento necessário para lidar com a complexidade dos cuidados, algo que a maioria das famílias não tem.

Além disso, delegar o cuidado pode preservar a relação afetiva entre pais e filhos. Um ambiente preparado permite que os filhos se tornem mais presentes emocionalmente, sem o desgaste físico e psicológico que o cuidado integral pode causar. É compreensível que muitos acharão errado, mas infelizmente, por mais simples e racional que possa parecer que um filho deveria cuidar de seus pais, muitos se não a maioria não está preparada, ainda mais se esse cuidado for exigido na transição entre a juventude e a maturidade.


A Importância de Planejar e Refletir


Para evitar que o cuidado se torne um peso insustentável, é essencial planejar com antecedência. Pensar no futuro financeiro e emocional é um passo importante. Aqui estão algumas dicas para quem deseja se preparar:


Planejamento Financeiro: Construir uma reserva para cobrir os custos de cuidados profissionais ou adaptações no lar pode ser decisivo.

Cuidado Preventivo: Incentivar os pais a manterem um estilo de vida saudável, com exercícios, alimentação equilibrada e check-ups médicos regulares, pode atrasar ou reduzir os impactos do envelhecimento.

Apoio Psicológico: Buscar terapia ou grupos de apoio para cuidadores ajuda a lidar com o estresse e a culpa.

Acompanhar a dinâmica de um idoso: Atualmente, as mídias sociais oferecem uma oportunidade para os filhos acompanharem a rotina de cuidadores de pessoas idosas. É possível acessar informações sobre casas de repouso e hospitais, permitindo que um preparo prévio ocorra, mesmo na ausência de um idoso necessitando de cuidados especiais. Tal acesso à informação é fundamental para compreender a complexidade que envolve essa fase da vida, contribuindo para um melhor planejamento e entendimento das demandas inerentes ao cuidado de idosos.

Reflexão Final


Cuidar de pais idosos é uma jornada cheia de desafios, mas não precisa ser enfrentada sozinha. O mais importante é reconhecer os próprios limites e buscar ajuda quando necessário. Decisões como contratar cuidadores ou optar por um lar de repouso não diminuem o amor pelos pais. Pelo contrário, são atos de responsabilidade e respeito por suas necessidades.

Amar é também saber delegar e garantir que eles tenham o cuidado adequado. Prepare-se financeira, emocionalmente e, acima de tudo, lembre-se de que cuidar de si mesmo é parte essencial desse processo.



Você, está preparado para cuidar dos seus pais quando eles precisarem?

Conhece alguém já que precisou internar seus pais em alguma casa de repouso?

Você já testemunhou algum caso de violência contra idosos?


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