O INSS DA CORRUPÇÃO
Casos Históricos de Assalto ao INSS
O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e os benefícios previdenciários têm sido alvo de fraudes recorrentes desde sua criação. Vários esquemas foram desarticulados ao longo das últimas décadas, com destaque para desvio de benefícios, concessões indevidas e cobranças ilegais (descontos) em aposentadorias e pensões. A seguir, relatamos casos representativos por período, incluindo investigações com condenações e denúncias midiáticas, destacando o envolvimento eventual de figuras públicas e autoridades.
Início dos anos 1990 – Corrupção no governo Collor
Anos 2000 – Operações estaduais contra fraudes no INSS
No início dos anos 2000 surgiram várias operações da PF em diferentes Estados:
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Megaesquema no Pará (2002) – A PF desmantelou uma organização que fraudava aposentadorias rurais no Pará, com cerca de 200 suspeitos (servidores do INSS, contadores, advogados e ex-funcionários de empresa de fachada) envolvidos em desvios de mais de R$ 1 milhão. Vários presos foram identificados (inclusive um liquidante de empresa fictícia), e documentos e computadores foram apreendidos pela PF.
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Mortos-Vivos (Cuiabá, 2004) – Em Mato Grosso, servidores do INSS reativavam indevidamente benefícios de pensionistas mortos ou ausentes (morte presumida), pagando atrasados a procuradores nomeados. Este esquema rendeu cerca de R$ 1,2 milhão desviados e resultou em 14 prisões.
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Carimbo Falso (Cubatão, 2006) – Dois fraudadores usavam carimbos falsificados de um médico do INSS para atestar afastamentos inexistentes. A operação prendeu dois envolvidos por falsificação de documentos.
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Milhares de benefícios falsos (Minas, 2007) – Uma quadrilha em Minas Gerais concedeu 400 benefícios fraudulentos, causando ~R$ 4,5 milhões de prejuízo. Quinze pessoas foram presas, entre elas um perito médico do INSS e o chefe de agência da Previdência de Contagem.
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Operação Zeppelin (Sorocaba-SP, 2009) – Trinta e duas pessoas foram presas por fraudar aposentadorias no INSS de Sorocaba, com desvio estimado em R$ 5 milhões. Funcionários e advogados criavam vínculos empregatícios falsos e cobravam propinas para aprovar benefícios.
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Outras ações (2010-2012) – Diversas operações foram deflagradas, como a “Desmanche” (2012, Maranhão; 12 presos por fraude de R$ 1,8 milhão envolvendo aposentadorias e BPC), a “Licomedes” (2012, concessão irregular a mortos/inexistentes; prejuízo de R$ 5 milhões), e a “Tornado” (2012, Cuiabá; 14 presos por concessão irregular de benefícios). Todas resultaram em prisões de servidores e intermediários e bloqueio de recursos.
2021 – Operação Bússola (Falsificação de documentos rurais)
Em 2021, a PF deflagrou a Operação Bússola contra quadrilhas que falsificavam documentos de terra e residência para obter aposentadorias rurais e benefícios (como o LOAS/BPC) indevidos. O esquema, descoberto no Maranhão, envolvia servidores do INSS e advogados corruptos. Foram presas 34 pessoas, evitando-se um prejuízo estimado em R$ 623 milhões (já que R$ 55,8 milhões haviam sido pagos irregularmente até então). Este caso teve amplo destaque e resultou em condenações, além de demonstrar os impactos devastadores de fraudes nos cofres previdenciários.
2023–2025 – Esquemas bilionários e fraudes em massa
Recentemente surgiram diversos esquemas de grande escala:
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Esquema de descontos indevidos (2019–2024) – Descoberto em 2024, envolvia associações de aposentados que realizavam descontos irregulares (mensalidades “associativas”) em milhares de benefícios, sem consentimento dos segurados. Estima-se até R$ 6,3 bilhões retidos irregularmente de pensões e aposentadorias entre 2019 e 2024. A investigação (Operação Sem Desconto, PF/CGU, abril de 2025) apontou que entidades como a AAPB, Aapen etc. fraudaram assinaturas de aposentados para descontar mensalidades. Entre os investigados estão empresários como Maurício Camisotti (Grupo Total Health) e Danilo Trento (Precisa Medicamentos). Servidores do INSS também são suspeitos de participação. Vários gestores foram afastados ou demitidos: o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado pela Justiça e pediu demissão; o ministro da Previdência, Carlos Lupi (presidente nacional do PDT), pediu demissão do cargo. A CGU interrompeu convênios e prometeu ressarcir as vítimas. Esta fraude bilionária é considerada uma das maiores na história recente da Previdência.
Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, envolvido no recente escândalo de descontos irregulares investigado pela PF em 2024-2025.
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Fraude com membros fictícios (2025) – A PF desmantelou no início de 2025 pelo menos duas quadrilhas que criavam “idosos fictícios” para receber benefícios de assistência social indevidos. Em Minas Gerais, a Operação Progênie (janeiro/2025) prendeu integrantes de um grupo que falsificava documentos de pessoas inexistentes, causando mais de R$ 7 milhões em prejuízo. Também em MG, a Operação Egrégora (maio/2025) fechou uma associação criminosa que “criou” 40 idosos fictícios (com 10 idosos reais atuando de laranja) e desviou R$ 11,5 milhões. Ambos os casos envolvem somente criminosos (falsários), sem notícias de políticos diretamente envolvidos.
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Fraude em Maranhão – “idosos de aluguel” (fev/2025) – Em fevereiro de 2025, a PF deflagrou a Operação Mandatum contra grupo do Maranhão que falsificava atestados médicos para cadastrar procuradores de beneficiários possivelmente falecidos, atualizando senhas bancárias e mantendo o recebimento das pensões. Vinte aposentadorias fraudulentas foram identificadas, totalizando R$ 2,6 milhões desviados. Na mesma semana, a Operação Melhor Idade (fev/2025) deu continuidade a investigações antigas de “idosos de aluguel” ligados ao BPC/LOAS. Ela identificou 285 identidades falsas e cerca de R$ 23 milhões em pagamento irregular de benefícios. Em todos esses casos, apenas criminosos foram presos e indiciados.
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Demais operações recentes (2025) – Em 2025 foram deflagradas também diversas ações da PF contra fraudes específicas em alguns Estados: em Tocantins/Maranhão (Operação Ribaldo, falsificação de documentos previdenciários), Ceará (Operação Rewind, servidores que reabriram indeferimentos), Rio de Janeiro (Operação Caça ao Tesouro, R$ 50 milhões em saques fraudulentos de INSS, 9 presos), Piauí (Operação Falsas Aparências, R$ 3 milhões desviados, advogados presos) e Rio Grande do Norte (Operação Vicarius, documentos falsos para “sequestrar” benefícios e contrair empréstimos ilegais).
Envolvimento de figuras públicas e impacto político
Em geral, poucos políticos tradicionais são citados diretamente nas investigações de fraudes ao INSS. Entre as autoridades envolvidas nos casos recentes estão: Alessandro Stefanutto (chefe do INSS), Virgílio Antônio Filho (ex-procurador do INSS), André Fidelis e Alexandre Guimarães (ex-diretores do órgão) – todos servidores públicos, não políticos eleitos – apontados pela PF como beneficiados com repasses ilegais no esquema de descontos. Por outro lado, destaca-se o caso de Aristides Veras dos Santos, presidente da Contag (entidade nacional de trabalhadores rurais) e figura pública ligada à base do governo. Ele é acusado de solicitar o desbloqueio de 34.487 benefícios de agricultores para viabilizar descontos associativos indevidos em suas aposentadorias. Com a ajuda de funcionárias, Aristides fez com que grande parte dos pensionistas rurais fossem inscritos em convênios espúrios, repassando valores a entidades como Fetag-BA e Ferasp. Segundo a PF, ele “representa milhões de trabalhadores do campo” no “Conselhão” presidencial, bem como era membro de conselhos do governo – o que gerou críticas na mídia sobre conflito entre suas funções públicas e acusações de irregularidade. Outros nomes de entidades associativas também foram citados em reportagens, mas sem confirmação de envolvimento direto de políticos eleitos.
Aristides Veras dos Santos, presidente da Contag (agricultura familiar), acusado de manipular benefícios rurais para aprovar descontos ilegais e acusado pela PF em 2025.
O caso das fraudes de descontos no INSS ganhou repercussão política intensa em 2025. A oposição insiste em atribuir o esquema ao governo do presidente Lula, enquanto o governo alega que as irregularidades se acumularam desde 2019. Foi proposta uma CPMI mista no Congresso para investigar o caso – um tema de debate público. Nesse contexto, a ministra Gleisi Hoffmann (PT), que coordena assuntos institucionais do governo, declarou que uma CPI poderia “comprometer o sucesso da investigação policial” em curso e atrasar o ressarcimento das vítimas. A postura de Gleisi foi criticada por algumas mídias oposicionistas como tentativa de “barrar” a investigação, mas não há qualquer prova ou denúncia oficial de envolvimento dela nas fraudes. Seu discurso focou na necessidade de que PF e CGU sigam apurando em sigilo e priorizando o pagamento aos aposentados lesados. Nenhum senador ou deputado foi formalmente citado como beneficiário ou participante dos esquemas, embora muitos parlamentares – de partidos de governo e oposição – tenham apoiado inquéritos para apurar o caso.
Tabela resumo dos principais casos
Nome do caso | Período | Envolvidos | Tipo de fraude | Status judicial | Fonte principal |
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Corrupção Collor (Magri) | 1991–1992 | Antonio R. Magri (ministro), servidores INSS | Propina p/ liberação de recursos do FGTS e INSS | Magri afastado; CPI/MPF investigou | Memorial da Democracia |
Megafraude no Pará | 2002 | ~200 suspeitos (contadores, INSS, advogados) | Aposentadorias rurais fraudulentas (R$ 1,2 mi) | PF prendeu envolvidos e apreendeu documentos | UOL/Agência Estado |
Operação Mortos-Vivos | 2004 | Servidores do INSS (Cuiabá) | Reativação de benefícios de falecidos (R$ 1,2 mi) | 14 presos; parte do prejuízo recuperada | UOL/Agência Estado |
Operação Zeppelin | 2009 | Funcionários e advogados (Sorocaba-SP) | Benefícios falsos/pagamentos indevidos (R$ 5 mi) | 32 presos (propina, vínculos falsos) | UOL/Agência Estado |
Operação Desmanche | 2012 | Servidores do INSS (Maranhão) | Concessão irregular de aposentadorias/LOAS (R$ 1,8 mi) | 12 presos | UOL/Agência Estado |
Operação Licomedes | 2012 | Servidores do INSS (Maranhão) | Inclusão de mortos/inexistentes (R$ 5 mi) | Prisões de servidores | UOL/Agência Estado |
Operação Tornado | 2012 | Servidores do INSS (Cuiabá) | Fraudes em benefícios (servidores presos) | 14 presos | UOL/Agência Estado |
Operação Bússola | 2021 | Servidores e advogados (MA) | Aposentadoria rural falsa (BPC/LOAS) (R$ 55,8 mi) | 34 presos; desvios de R$ 55,8 mi evitados | UOL/Agência Estado |
Esquema de descontos no INSS (sem desconto) | 2019–2024 | Stefanutto (INSS), Lupi (PDT), assoc., advogados | Descontos indevidos em aposentadorias (R$ ~6,3 bi) | Investigação PF/CGU em curso; presidente do INSS afastado, Lupi demitiu | BBC/CNN/UOL |
Operação Mandatum | Fev/2025 | Quadrilha (MA) | Falsificação de atestados para manter pensões indevidas (R$ 2,6 mi) | 5 mandados cumpridos; inquérito em andamento | PF.gov |
Operação Melhor Idade | Fev/2025 | Quadrilha (diversos estados) | “Idosos de aluguel” do BPC/LOAS (285 fictícios; R$ 23 mi) | Mandados cumpridos; investigação em curso | UOL/Agência Estado |
Operação Egrégora | Mai/2025 | Quadrilha (MG) | Documentos falsos (idosos fictícios) (R$ 11,5 mi) | 3 mandados de prisão; perdas evitadas | CNN Brasil/PF |
Operação Progênie | Jan/2025 | Quadrilha (MG) | Documentos falsos (pessoas fictícias) (R$ 7 mi) | 2 prisões preventivas; prejuízo evitado de R$ 9 mi | PF.gov |
Fraude na Contag (planos rurais) | 2019–2024 | Aristides Santos (Contag) e funcionários | Descontos ilegais nas aposentadorias rurais (34.487 descontos solicitados) | PF investiga; Contag suspeita de grandes desvios | UOL/Governança |
Operação Caça ao Tesouro | Mar/2025 | Servidores, advogados (RJ) | Emissão fraudulenta de saques (R$ 50 mi) | 9 presos | UOL/Agência Estado |
Fontes: As informações acima são baseadas em reportagens de veículos confiáveis (BBC, CNN Brasil, Folha, UOL, O Tempo etc.) .
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